sábado, 27 de outubro de 2007



Nila Araújo, nascida em 1978 em Campina Grande, na Paraíba, não queimou sutiã ou mesmo saiu às ruas erguendo bandeirolas de nenhum movimento reivindicatório. Em 1999, ela jogou para o alto tudo que fazia e decidiu apostar num sonho. Oito anos depois da façanha, começa a colher as notas plantadas de um trabalho antes dominado pelos homens, especialmente no Nordeste. Como um fruto 'de vez', mas devorado na Paraíba, a agora DJ Hunter (referência à cantora Björk e a postura adotada por ela na hora de caçar o melhor som) não esconde o desejo de devorar as discotecas do Rio Grande do Norte, onde têm forte relação com a paisagem da capital.

O Mossoroense - Como foi que você chegou até a música?
DJ Hunter - Freqüentando a noite, as baladas, me identifiquei com a música eletrônica. Passei a ser baladeira e daí por diante tomei gosto por tentar fazer aquilo que eu achava que faltava nos dominadores das pistas. Mas antes eu já curtia os primórdios, como Depeche Mode, Information Society, Erasure, kraftwerk... então antes de me tornar baladeira, já curtia os primeiros sons eletrônicos. Sempre prestei atenção no que faltava devido a cultura da cidade (Campina Grande) estar muito ligada ao rock e a música alternativa. Digamos que a música eletrônica no seu boom (DJ's) chegou fazendo parte dessa cultura trazida primeiramente pelo gueto GLS, posteriormente aderida por outros guetos e atualmente por todos os grupos sociais na cidade.

OM - O que você fazia antes disso?
DH- Trabalhava em locadoras de vídeo, pois também sou cinéfila, ou seja, procuro fazer o que gosto (risos).

OM - Então quer dizer que o universo GLS é uma fonte inesgotável de lançamentos de tendências?
DH- Sem dúvidas, pois eles têm toda uma cultura envolvida com a música eletrônica. Quando você fala em boate, ou vai a uma cidade que tem boate, ou você encontra uma boate GLS ou muitos deles nas baladas. Porém, eles têm seu próprio estilo e conhecem aquilo que gostam e que consomem. Cultura no nosso meio é fundamental, você tem que saber o que está consumindo, como curtir, e saber sobre MPB, bossa nova, o mesmo se dá na musica eletrônica.

OM - Isso quer dizer que o universo GLS é mais antenado e tem gosto melhor pela música?
DH - Não, isso não quer dizer que eles tenham gosto melhor, absolutamente. Apenas que sabem sobre aquilo que estão ouvindo, diferentemente da cultura de massa que não identifica os estilos, as vertentes. Mas também acontece o preconceito, pois, tanto eles não aceitam dentro do gueto outros estilos que não sejam o deles, como também se você tocar a vertente deles em outro ambiente, logo irão identificar que se trata de uma música mais 'alegre' (risos).

OM - Por que há essa separação, a música eletrônica não é essencialmente de massa?
DH - Falei demais? (risos). Não, ela se encontra na massa, mas os estilos, as vertentes tendem a separar os grupos sociais, como vemos nos grupos que consomem outros estilos, como exemplo: quem curte pagode tá lá na mesa de bar ouvindo, quem curte MPB tá no barzinho, rock tá no show, e na música eletrônica, mesmo que você tenha um DJ em qualquer desses lugares, ele tem que se adaptar ao público. Por exemplo: se o Dj vai tocar pra um grupo que consome o padoge, ele tem que agradá-lo chegando o mais próximo possível da realidade deles, tocando funk por exemplo. Se for tocar pra galera roqueira, tem que tocar batida quebrada, com big beat, breakbeat, drum n'bass, hip hop.

OM - Mas, qual é seu estilo?
DH - Breakbeat e big beat, mas às vezes sou chamada pra tocar em boites, aí faço o diferencial, atualmente com electro.
OM - E isso não te incomoda? Ter que tocar de tudo e não apenas a vertente que você escolheu trabalhar?DH - Mas eu não toco de tudo, apenas comentei sobre como a música eletrônica chega aos diversos grupos. Eu apenas trabalho dois tipos de grupos, o GLBTS e o alternativo. Portanto, toco o que gosto. Tenho mais afinidade com a batida quebrada, com a qual posso criar e me dar a possibilidade de interagir melhor tocando ao vivo.

OM - Então, um Dj não é mero executor de música...
DH - Jamais ele pode ser. A ponto de levar a música eletrônica de alguma forma pra quem não tem acesso até está valendo, mas para aqueles que já fazem parte dessa cultura a coisa muda de configuração. Hoje em dia o DJ tem que produzir suas próprias músicas e não apenas executar músicas de outros produtores. Por isso, depende da cultura. DJ chegar numa cidade pequena fazendo scratch, neguinho não vai entender nada.

OM - Você deve ter encontrado muitas dificuldades para vencer nessa área, não? Por ser mulher talvez?
DH - Sim, no início. Mas hoje em dia isso é até motivo de valorização por não ser muito comum. No princípio passei alguns preconceitos e dificuldades. Os Dj's não se conformavam de participar de uma festa comigo e no final das contas eu ter sido a melhor da noite, por exemplo. Como pode, uma mulher? Voltando um pouco atrás, vejo essa divisão como arte ou entretenimento.

OM - Discotecagem é arte?
DH - O Dj que executa é entretenimento, o que se preocupa em fazer o diferencial é arte, depende. Porque ser Dj é discotecar.

OM - Dj dos anos 90 pra cá, quando a música eletrônica chegou às massas, virou moda, passou a ser cultuado como ídolo. Você se importa com o espaço que a profissão ganhou graças ao modismo, ao empurrão que a mídia deu? Vejamos: The Chemical Brothers, Moby, Fatboy, sem esses precursores da cultura pop o Dj não seria requisitado como o é hoje.
DH - Claro que não me importo até porque esses são profissionais mesmo, produzem cada um na sua configuração, não são Dj's que tocam apenas set´s mixados de outros produtores. Claro que não desvalorizo, pois é necessário que hajam os tocadores de set, mas o cara não pode parar por aí. Os Dj's devem ter como referência esses precursores pra compreender melhor o universo e ter a ambição de crescer e produzir, pra acabar com esse mito de que Dj não é músico.

OM - Isso quer dizer que você é uma artista?
DH - Me considero, pois além de produzir, procuro inovar quando estou tocando, interagindo com a música, construindo efeitos, não apenas executando. Também interajo com músicos, o que me traz o diferencial.

OM - São Jam's com bandas?
DH - Faço sim, já toquei com Chico Correia, Baixinho do Pandeiro, Etnia Sound, são músicos pernambucanos e paraibanos.

OM - E o RN? Eu sei que você costuma trabalhar por Natal, o que rola por lá?
DH - Cultura norte-americana. O que os EUA estiverem consumindo chega por lá. No caso, ainda atualmente a vertente mais forte por lá é o electro. A diversidade é interessante, mas ainda deixa a desejar no sentido produção musical e live P.A (entenda-se fazer discotecagem ao vivo).

OM - Mas baseada em que você diz isso? Você conhece a cena rave de lá?
DH - Em Natal, participo mais das festas dadas em boites. O único ambiente livre que toquei foi no MADA, mas a raves não, pois de uns dois anos pra cá o Psy Trance roubou esta cena, o que deixa os DJ's por fora. Não considero Dj de Psy um DJ, é um executor.

OM - E Mossoró, já ouviu falar?
DH - Bastante. Já recebi convites pra tocar aí, mas quando soube da distância, cabritei (risos). Como eu estava muito cheia de trabalho, deixei pra próxima. Um de meus alunos já tocou na cidade e me falou que o público é bem divertido, que não esperava pela agitação que foi. Achava que só na capital era assim.

OM - Voce é professora?
DH - Também. Me importo com a educação dos novos profissionais na área.

OM - Você promove cursos de DJ no caso...
DH - O próximo módulo inclusive será em João Pessoa. Quem sabe um dia em Mossoró.

OM - O que é a música eletrônica afinal?
DH - Música feita a partir de equipamentos eletrônicos sem a necessidade de tocá-los como instrumentos, mas de construir música a partir de sons que são construídos em softwares ou processadores de efeitos. Tem tudo, segue-se compasso, ritmo, harmonia, melodia, isso vai depender do profissional que a constrói. Espírito, o espírito do pós-modernismo, todos os ruídos que temos que ouvir hoje em dia pelas máquinas e usinas podem ser transformados em música. Como diz Björk, tudo é música.

Pós-modernidade: O tempo acelerado e a imagem que se assume descartável antes da maturação


Quando, na redação, um álbum de Thábata, cantora mossoroense, chegou-me às mãos, lembrei-me que em outubro de 1992 Madonna lançava uma cartilha definitiva da sexualidade pós-moderna: O disco "Erótica", o filme "Corpo em Evidência" e o livro-fantasia de conotações pornô "Sex" diziam ao mundo que os padrões da sociedade tradicional que estabeleciam o papel da mulher como mãe, educadora e dona-de-casa, enquanto ao homem cabia o de pai, chefe de família, responsável pelo sustento da casa já não existiam.
Como resultado do movimento feminista dos anos 60, saindo de uma era conservadora Madonna apareceu com suas roupas e atitudes, reformulando o papel revolucionário da mulher, ajudando a construir uma nova identidade a partir da moda, da sexualidade e da atitude diante de relações de poder. "Madonna brinca, de forma direta com os papéis sexuais, usa roupas masculinas, ocupa posições masculinas, propondo a quebra de estereótipos convencionais, como na turnê 'Blondie Ambition' em que seus bailarinos aparecem com seios e suas bailarinas, com pênis", explica a antropóloga Karlla Souza.
A cantora norte-americana nos apresenta um conjunto de contradições. Na elaboração de alguns clipes e na apresentação de algumas turnês, principalmente em 'Erotica', ela explora a imagem sexual e se apresenta como uma mulher dominadora, mostrando a liberdade feminina como algo natural e sadio, ironiza códigos sexuais e brinca com gestos obscenos. Em outras épocas passa a imagem da mulher romântica, passiva e sofredora. "Madonna choca quando surge de terno e segurando a virilha, realçando a artificialidade da imagem de poder do estereótipo masculino. Ao mesmo tempo, ela apresenta o papel das mulheres coisificadas, dessa feita enquanto instrumento sexual, avaliadas segundo a aparência, o glamour e a jovialidade", diz Karlla Souza.
Senhora ou profana, burguesa ou espiritualizada, Madonna invade os lares e as mentes do mundo inteiro através da cultura da mídia e do consumo. "Como resultado da sofisticação que os meios de comunicação de massa foram tomando, ela vem constituindo nos nossos dias a principal forma de socialização. Os produtos veiculados pela mídia não podem ser considerados apenas como entretenimento inocente, mas, por terem um cunho socializador e por situarem-se num terreno de lutas e representações dos atores sociais. O estudo da cultura da mídia permite, então, que se amplie, para além da crítica ideológica, a crítica para questões da identidade e da sexualidade e consumo" avalia Karlla.
O resumo da história é que hoje as mulheres passaram de donas-de-casa a donas de si. Mas, baseado na noção de pós-modernidade, a identidade das mulheres aderiu à bricolagem de elementos. A idéia predominante do indivíduo é formar imagens agradáveis de si mesmo. "Num verdadeiro processo de experimentação, tais imagens nunca existem em definitivo, mas estão em constante reformulação, em reaproveitamentos ou combinações de elementos diversos", conta a antropóloga.
Aqui volto a me referir a Thabata, mas não para fazer julgamentos ou dizer que ela é a Madonna mossoroense. A bricolagem é um fenômeno presente nas artes, na música, na informação. "O que vemos despontar no cenário regional e nacional através das bandas de forró elétrico por exemplo, utilizando letras românticas e danças sensuais pode ser um exemplo do que acabamos de definir como sendo uma bricolagem. Misturando elementos das canções e das performances de Madonna, associando isso ao ritmo quente e fogoso do forró, o estilo vem ganhando espaço através da indústria midiática e do comércio de símbolos sexuais. As mulheres exibindo seus corpos seminus chegam a lembrar Madonna feliz e dançante do início de sua carreira, porém, recuperando o arquétipo da mulher-objeto, e não daquela que aposta no futuro e na sua vontade de se expressar", define Karlla Souza.
Portanto, entendo que a imagem da mulher pós-moderna no palco vale para todas que aliás, provavelmente, sequer sabem por que posam tão sensuais para capas de discos, ou porque rebolam para além do som. "A maldição da mídia é que ela tem que acompanhar a aceleração da pós-modernidade. Seus produtos não têm um tempo necessário de maturação. Tudo acaba sendo impiedosamente atropelado e nesse frenesi sobram alguns restos e muitas reaproveitações. As coisas não evoluem, elas se complicam, e antes mesmo que se resolvam, são simplificadas em um número infinito de releituras e reapropriações grosseiras, de figurinos, imagens e som. O imperativo do comércio midiático tornou a novidade obsoleta e antes mesmo que Madonna pudesse se tornar antiga, outras novidades tiveram de ser lançadas", explica Karlla Souza.
Por isso, o que parece ser é que a mulher decidida já não serve, a super-fêmea também já está fora de moda. "Erótica", por um lado, é uma obra musicalmente excelente, reveladora e pontua a virada de conceitos e liberdades, ou libertinagens. Por outro, 15 anos depois do estardalhaço, a efemeridade do nosso tempo levou a imagem ou a mulher a se adequar aos desígnios do novo mercado: é preciso assumir-se descartável para sobreviver.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

BORDOADA NA INDÚSTRIA E A NOVA RELAÇÃO DE CONSUMO DA MÚSICA




http://www.inrainbows.com/ esse é o mais novo endereço para trilhar o caminho da felicidade, pelo menos para os fãs da boa música, ou do rock. Trata-se do site oficial do Radiohead, umas das maiores bandas surgidas dos anos 90 para cá, que acaba de promover um estardalhaço na indústria da música. Desde 10 de outubro, a banda disponibilizou seu mais novo álbum "Inrainbows" para download ao preço que o consumidor quiser (que pode ser nada inclusive).A partir daí, a banda define um caminho que nos tempos de Internet já vem sendo trilhado, embora muitas vezes pela pirataria.



Baixar música de graça na rede não é novidade, e vez por outra, artistas disponibilizam singles gratuitamente e as gravadoras também já contabilizam as vendas a partir de número de downloads vendidos. A novidade é que dessa vez "Inrainbows" não ‘vazou’, nem há ninguém consumindo a obra de forma irregular. Preenchendo o cadastro no site, o internauta escolhe quanto pagar pelo disco. Isso acontece depois que a banda cumpriu seu contrato com a gravadora Capitol após o lançamento de "Hail to the thief", em 2003. O Radiohead está livre para vender seu novo álbum como bem entender.



Lobão, em 1999, também disse não às gravadoras e colocou “A Vida é Doce” à venda em bancas de revista. O cantor Prince, que já se arrisca em incursões digitais há algum tempo, encartou seu último álbum, "Planet Earth", na edição dominical do jornal "Daily Mail" em julho passado e vendeu 2,8 milhões de cópias distribuídas em um dia.



Percebendo que não poderá mais ficar em casa ouvindo o tilintar das moedas pingarem em sua conta com a venda de discos, a cantora Madonna assinou na terça-feira passada (16) um contrato com a Live Nation, empresa que organiza shows e turnês, para o gerenciamento total de sua carreira musical. Pelo acordo, especulado em 120 milhões de dólares, a rainha do pop deixou a Warner depois de 25 anos de contrato. Em comunicado oficial, ela diz "O paradigma nos negócios da música mudou, preciso acompanhar essa mudança. Pela primeira vez em minha carreira, a maneira como minha música pode chegar aos meus fãs está ilimitada. Quem sabe como meus álbuns serão distribuídos no futuro?". O Radiohead sabe.



O contrato inclui todas as canções e produtos musicais lançados por Madonna, de 49 anos, no futuro, incluindo a exploração comercial da marca da cantora, seus novos discos, suas turnês, merchandising, fã-clubes, websites, DVDs, programas de TV, filmes e projetos patrocinados.Isso não deixa de ser um sinal de que a proposta do Radiohead vem para fazer as gravadoras repensarem a maneira de explorar os artistas e os consumidores, além de humanizar o showbusiness: shows serão mais lucrativos do que a venda dos discos.



Há pouco mais de 25 anos, a Philips (em parceria com a Sony) lançava no mercado o compact disc digital áudio, invenção tecnológica que viria a revolucionar de forma definitiva a produção e a distribuição de música. O primeiro CD lançado foi o célebre "The Visitors", do Abba, famoso por ser também o último da bem-sucedida carreira do grupo sueco. Finalmente, oito anos depois de a música sair do disco para ganhar o espaço dos tocadores de MP3, algo começa a acontecer na relação entre ouvintes e artistas. Quem sabe aqui a pirataria visitará o limbo e os artistas independentes terão mais espaço para trabalhar. Previsões ainda são arriscadas porque a indústria não apresentou suas armas e ainda é cedo para saber se o consumidor aprenderá a respeitar o direito autoral, embora tenha a partir de "Inrainbows" a opção de até não pagar pela obra. Fato é que para registro, e como no caso de "Inrainbows" a oferta é em Euro, paguei nada pelo álbum que não tem preço.





A SAGA DA MELANCOLIA
COTAÇÃO : A
RADIOHEAD
INRAINBOWS
10 DE O UTUBRO DE 2007


Scratch na abertura, rock sincopadíssimo, pancada e melodia casadas com pirações eletrônicas... bem-vindos à primeira música "15 Step" que dá o tom do vigor do rock que a banda resgata. "One by one, come to us all", um por um, venham todos a nós, diz Thom Yorke na faixa arrebatadora que introduz o álbum "Inrainbows", o sétimo da carreira do Radiohead, banda famosa por hits como "Creep", "Paranoid android" e "Karma police", disponível apenas para download em www.inrainbows.com. É dos melhores, aliás. O estado etéreo do tempo que o Radiohead já havia provocado em "Idioteque" e, em certa medida, em "Everything in Its Right Place" (ambas de "Kid A") está de volta, porém mais rock 'n'roll do que nunca. Portanto, vá até eles.



Não se engane com a preferência pela melancolia de Tom York, o vocalista. Não se trata de um álbum de baladas. É rock revestido de Trip Hop até o fim, fruto de uma mente genial que não cansa de aguçar nosso espírito para despertá-lo da banalidade da dor. O Radiohead resolveu não apenas dar um tapa na indústria, mas nos ouvidos de quem há tempos não se lembrava o que era rock. "Bodysnatchers" tem guitarras que lembram o U2. Mais distorções e sonoridade suspensa em "Nude", bela melodia que transforma a melancolia em estado de prazer é a síntese do espírito da banda. Aqui você inflamará toda dor, ou toda dor-de-cotovelo que houver.



Batidas quebradas para triturar um coração adormecido em “Weird Fishes/Arpeggi”.A doçura segue com "All I Need" (que diz "você é tudo o que preciso") que desemboca nas cordas infinitas de "Faust Arp". A banda volta a atacar em "Reckoner", uma balada também arranjada com maneirismos vocais e sonoros que muito lembram o U2 novamente, até retornar a assombrar as almas com a sonoridade de "House of cards". Quando você pensar que está perto do fim, a linha de baixo de "Jigsaw falling into place" promoverá o recomeço de um novo orgasmo. Descanse com “Videotape”, a última, e começe tudo de novo.



Por isso e por mais, "Inrainbows" é a maneira mais eficaz de celebrar os dez anos do estupefaciente disco "OK Computer" e de pensarmos se ainda é apropriado chamar os álbuns de discos. Pelo menos por enquanto sim. Fãs também podem encomendar caixas contendo o novo álbum em CD e vinil, um segundo CD com faixas extras, artes e fotos, encarte com letras, além de um download (o pacote sairá antes de 3 de dezembro). A caixa custará 40 libras (aproximadamente R$ 160,00).



O QUE OS ARTISTAS PENSAM DO DISCO QUE NÃO TEM PREÇO


"Inicialmente imagino que eles estão fazendo uma provocação à subjetividade humana. Acredito que uma determinação dessa natureza no mundo eminentemente capitalista com certeza surpreenderá a uma indústria cultural que visa só e somente ao lucro, deixando a consciência planetária perplexa e, sobretudo, deixando a indústria sem o preparo necessário para ingressar no universo de solidariedade aos que constroem a arte com talento e muita dificuldade", Genildo Costa, cantor mossoroense.



"O que diabo é Radiohead? É banda de rock internacional? Ainda estou ouvindo os Beatles e no rock nacional Raul, Mutantes e Rita Lee. Sobre a questão da venda, de longe vou observar o mercado para depois avaliar. A princípio é estranho. Dizem que em alguns países avançados, bota-se gasolina sem o frentista e a turma não dá calote. No Brasil, quebraria os donos de postos. Acho que se praticássemos um preço justo no disco, em torno de R$ 20,00, evitariamos a pirataria", Zé Dias, produtor cultural.



"Este negócio de Internet está deixando doido a questão dos direitos autorais. Baixar música e não pagar por ela é estranho. Baixar e deixar por conta do consumidor o direito de estipular o valor, a princípio é democrático demais para uma sociedade consumista e de poucos valores éticos. É no mínimo estranho e vou pagar para ver", Khrystal, cantora.



“Não acho que é a morte do CD, assim como o livro que ainda não acabou. É o futuro mesmo. Sou desconhecida, mas estou vendo uma forma de me inserir nisso. Em muitas circustâncias não vale a pena disponibilizar tudo, mas para uma banda como eles é fantástico. O caminho para acabar com a pirataria é esse. O que as pessoas vão piratiar se tem como baixar? Esse negócio de pagar o que você quiser vai levar as pessoa a ter consciência”, Simona Talma, cantora.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Próximos eventos


14 e 15 Setembro
Aniversário da Boite Vogue
Natal

26 Setembro
SESC Centro
Campina Grande

31 Outubro
Halloween
Alagoa Grande (terra de Jackson do Pandeiro)

Alagoa Grande


Dia 07 Setembro
BNB

Alagoa Grande

Tv Cultura


05 Setembro
Entrevista no Programa Diversidade - TV Cultura - Itararé
Campina Grande- PB

comunicurtas


Dia 31 de Agosto Encerramento do Festival Comunicurtas
Centro Universitário de Cultura e Arte - CUCA
Campina Grande


Eventos

Dia 17 de Agosto Festa de Formatura dos alunos do Curso By DjHunter
Praça Clementino Procópio
(sET de Encerramento após os SeT's dos alunos)
Campina Grande- PB

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Erecom 2007: Aparato musical a serviço da introspecção

Dj Hunter





Lembro-me de um Erecom que participei em Natal, em 2000, onde a noite dos estudantes terminava em qualquer ponto turistico da cidade que a delegação escolhesse visitar. O Erecom 2007, realizado em Campina Grande, na Paraíba, de 12 a 15 de julho, apostou na música para celebrar o final dos dias de oficinas e palestras. E deu certo. A noite de estreía do projeto musical rolou no sucateado prédio da faculdade de Comunicação Social da UEPB: noite de quinta-feira, 23h, bandas Marxuvipano ( a mutantes campinense) com a jornalista Katiucia a frente dos vocais, Maré Vermelha e Bobgonzaga. No espaço alternativo Dj Hunter sacudiu a cabeça e o esqueleto de estudantes da Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e Pernambuco com a levada do break beat. Peso e atitude esquentaram a noite chuvosa e revelaram um som poderoso que poucos djs se arriscam a trabalhar.
Sexta 13/07 23h Festa – Local – Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) bandas: Zepelin e o Sopro do Cão, Gunjah (banda de reggae de Joao Pessoa com performance globalizada, no melhor dos sentidos. Aqui o reggae bebe do original e vai além de atuações abrasileiradas fajutas da maioria das bandas do gênero) e Etnia Sound. Fim de noite, quase manha, e quem ficou pôde curtir Dj Hunter tocar novamente, num momento raro de jam session, improviso a flor da pele liberando notas de jungle.
Sábado 14/07 23h Festa – Local – Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) bandas: Bake Makossa, Forró Áudio Visual (tres forrozeiros cegos enfrentaram uma turma maluco beleza para dizer que quando se é original e se toca musica de verdade naõ há esqueleto que resista: triangulo, zabumba e sanfona carregados de batidas quebradas como só Campina Grande sabe fazer). Dj hunter mais uma vez encerrou a noite superando expectativas. Ela é a prova que a música executada com atitude vai além do sexo, se bem que talvez a feminilidade deva contribuir secretamente para a magia do set de break beat, especialidade da artista. Curiosidade de bastidores: ela aquece antes de subir ao palco, sim porque nao é uma pick up, e as margens do açude velho, mais uma vez, encanta a mente e o corpo de quem sacoleja: quem dança os males espanta.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Bjork - os vulcões estão de Volta

Volta
Bjork
Audio CD (May 8, 2007)
Original Release Date: May 8, 2007
Wea
Faixas
1. Earth Intruders 2. Wanderlust 3. The Dull Flame Of Desire 4. Innocence 5. I See Who You Are 6. Vertebrae By Vertebrae 7. Pneumonia 8. Hope 9. Declare Independence 10. My Juvenile


Apesar de adoradora de Elis e Milton Nascimento, talves Bjork nao saiba da pertinência do título do novo disco Volta, aqui para o nosso rico portugues. Ela esta de volta sim. Depois da fase unheimlich de Vespertine e Medula (se é que o trabalho dela não seja realmente unheimlich na essencia), a deusa dos sons vulcânicos e imcompreensíveis resolveu retomar a veia mais pesada de suas viagens extraterrestres.

Parte da crítica se posiciona cansada do excesso de esquisitices de Bjork e especula se Volta nao sera mais do mesmo. Em parte! É natural que todo artista a certa altura da carreira reúna e reafirme sua alma atraves de um album/obra sintetizador. Volta resgata o poder e agressividade da sonoridade que se arrastava entre Debut, POst e Homogenic.

Comparações serão inevitáveis, porém, dada a complexidade de digestao do som, será tarefa muito pessoal, especialmente para os fãs. Em "Homogenic" (1997), o disco começava com "Hunter", uma marcha eletrônica, caçadora e cheia de ameaças. Em Volta, a primeira música é "Earth Intruders", também uma marcha onde as ameaças somos nós mesmos, os "invasores da Terra". Em "Declare Independence" guitarra e atitude indie/punk/grunge não lembrariam "pluto" de Homegenic? Para a modernidade, traduza-se Peaches e Cansei de Ser Sexy!. Só para citar dois exemplos. Björk sabe o que faz e não renega o passado, renova-o e recicla-o. Estruturas eletronicas de video game, melancolia e metal estao presentes no album.

Como toda obra da cantora, imediatismo é palavra descartada. A primeira vista Volta não parece poderoso como a trilogia/obras-primas Debut, POst e Homogenic. Ao menos dá o recado que o que ela quer, o raciocínio com ou sem tato que ela tiver, ela pode trasformar em som. Volta vai colocar seu ouvido para pensar. E que venham mais avalanches de neve da Islandia daqui para frente.

sábado, 26 de maio de 2007

Montage: androginia em pleno Ceará

O Montage tocou no Mada 2007 no mesmo dia que Dj Hunter esteve por lá discotecando na Feira MIX. Ela acompanhou tudo de perto, e quem viu e ouviu atesta:
Montage é uma banda de electro rock com atitude punk, pop, glam, new wave, e letras que falam sobre drogas, fama, pombajira, dinheiro e até benflogin. Quem diria, o benflogin, aquel anti-inflamatório tomado em dosagens excessivas, tao rodado em São Joões passados em Campina Grande, é mais famoso do que imaginava.

Eles começaram em Fortaleza, em 2005, depois correram pra São Paulo pra tentar o electro por lá com a formação original de Daniel, o vocalista, Leco, e o guitarrista Patrick Bachi - que saiu antes do lançamento do primeiro disco, I Trust My Dealer, pelo selo Mundo, em janeiro de 2006.





O som da agora dupla vem do rock e do eletronico tipo Daft Punk, Garbage, Vive La Fête, Underworld, Chemical Brothers e Prodigy.

A perfomance no palco é descarada e assumidamente influenciada por Madonna, David Bowie e Iggy Pop e pelo resumo atual de tudo isso, o Marilyn Manson.

Eles ainda nao sao tao conhecidos quanto, mas seguem a cartilha do Cansei de Ser Sexy, no mundinho indie, só que o som dos caras é bem mais pesado.




















Mais sobre o Montage e o som dels, no my space:
myspace.com/montagebrazil

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Kraftwerk: os pais da eletrônica parte I

Ralf Hütter e Florian Schneider são, de fato, o Kraftwerk. Foram eles que começaram a idéia de algo novo, muito antes do grupo existir, no final dos anos 60.
A Alemanha daquela época era um vácuo, especialmente cultural. Após a Segunda Guerra Mundial e a divisão entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, o país sofria uma imensa e violenta crise de identidade cultural. Um das maiores pólos culturais da Europa e do mundo, o país vivia uma época em que a falta de perspectiva era o maior problema para uma juventude anestesiada, que rejeitava a herança deixada e que consumia, como o planeta inteiro, a cultura norte-americana.
A música que tocava era o rock dos Beatles, que ironicamente tinham aprendido muito tocando nos primeiros anos em Hamburgo. O piscodelismo era também consumido, mas nenhum desses estilos casava de forma precisa com as aspirações dos jovens alemães.
A primeira resposta a isso veio com o Can e com o Tangerine Dream, que misturavam o rock psicodélico, o nascente progressivo, com eletrônica e alguns experimentos. Em breve outras bandas como Cluster, Amon Düul II, Guru Guru, Ash Ra Tempel e outras ocupavam uma cena faminta por novidades. Mas ainda faltava algo. Faltava uma grande banda, um grande nome, uma unanimidade.
Essa unanimidade já existia e fazia parte de um grupo chamado Organisation. No Organisation, participavam dois jovens que seriam o núcleo de algo bem grande - Ralf Hütter e Florian Schneider. E o Organisation era um grupo relativamente organizado e com bons instrumentos, tanto que o guitarrista do Can, Michael Karoli, lembra que sua banda cansou de usar os instrumentos alheios em shows, como na primeira apresentação do Can.
Ralf e Florian se conheceram em um conservatório de Dusseldorf, onde eram estudantes. Ralf tocava órgão e Florian, flauta. Como boa parte dos músicos alemães, os dois possuíam uma sólida formação clássica e teórica, mas não queriam se aventurar pela música de câmara. Os dois queriam misturar seu conhecimento com improvisos e com a eletrônica.


O Organisation era composto por cinco músicos - além de Ralf e Florian, faziam parte o vocalista Basil Hammoudi, o baixista Butch Hayf e o baterista Fred Monicks. Em 1970, o grupo lançou um disco chamado Tone Float. O disco trazia elementos psicodélicos, percussivos e minimalistas, sendo produzido por Conny Plank. Plank conseguiu um acordo para o grupo com a RCA britânica, por onde foi lançado o álbum. Mas a gravadora não sabia o que fazer com o som deles e os tentou rotular de "King Crimson alemão", o que foi um desastre. O mais curioso é que o trabalho não foi lançado na Alemanha à época e ele tinha que ser importado.
O Organisation acabou não resistindo ao fracasso de estréia e Ralf e Florian resolveram criar um novo grupo. Mas, ao invés de copiar ou seguir adiante com o modelo de sua ex-banda, buscavam algo novo. O primeiro passo foi construir um estúdio particular, onde poderiam trabalhar exaustivamente por horas e horas. O segundo foi chamar dois novos integrantes, Andreas Hohman e Klaus Dinger.
E faltava escolher um nome, uma marca que pudesse traduzir perfeitamente a proposta da banda e que soasse bastante alemã. Como Dusseldorf fica dentro do coração industrial da Alemanha foi escolhido o nome Kraftwerk, que nada mais é do que "usina de força".



Com o nome escolhido, convidaram Conny Plank, o mesmo produtor do Organisation, para produzir o primeiro disco da banda. Kraftwerk foi produzido entre julho e agosto de 1970. O disco trazia alguns elementos interessantes, embora distantes do som com que o Kraftwerk ficaria famoso. "Ruckzuck" abre com flauta e ruídos eletrônicos. "Stratovadus" fecha o lado A. "Megaherz" e "Von Himmel Hoch", as duas do lado B, eram faixas primitivas demais para um grupo que marcaria época.
E o grupo teve a primeira crise interna quando Hohman resolveu deixar o grupo, sendo substituído por Michael Rother, um guitarrista e pelo baixista Eberhardt Krahnemann. E o baixista abriu uma segunda crise após uma gravação deixando o grupo e sendo seguido por Ralf Hütter. No entanto, Florian não perdeu a calma e continuou trabalhando com Dinger e com Rother.

Dinger
Como trio, a banda fez a primeira aparição na televisão alemã, tocando "Truckstop Gondolero", por sete minutos e usando os cones que haviam usados na capa do primeiro disco em volta deles. Tudo isso no programa de rock Beat Club.
E, ao mesmo tempo em que Dinger e Rother anunciaram que deixariam o Kraftwerk para começarem um novo grupo (Neu!, que também faria história dentro do rock alemão), Ralf volta à banda e começam a gravar um novo trabalho.







Michael Rother



Kraftwerk 2 é um disco mais eletrônico, já que a banda precisou usar uma primária bateria eletrônica para suprir a ausência do baterista Dinger.
O disco abre com "Klingklang", que seria o nome do estúdio do grupo e fecha o
primeiro lado com "Atem". No lado B, mais quatro faixas: "Strom", "Spule 4",
"Wellenlange" e "Harmonika". No entanto, esse disco já mostra uma maior preocupação em estruturar as canções, já que Ralf e Florian não queriam se perder em improvisos como no disco do Organisation.




A primeira virada na carreira da dupla seria com o disco Ralf and Florian, de 1973. O duo começou a forjar toda sua essência sonora a partir desse disco, já gravado no Kling Klang, e tremendamente influenciado por um jovem estudante de violino, Emil Schult. Schult seria ao longo dos anos um membro não-oficial, ajudando nas letras e a moldar a concepção visual do grupo. "Tanzmuzik" já trazia elementos que seriam usadas alguns anos mais tarde na música disco, mostrando o quanto poderiam ser visionários e conectados com as novas tendências. As canções do disco eram, no lado A: "Elektrisches Roulette", "Tangebirge", "Kristallo", "Heimatklange" e no lado B: "Tanzmuzik" e "Ananas Symphonie".
E a grande mudança viria no ano seguinte quando se tornariam, de longe, o grupo alemão mais bem-sucedido até então. Tudo isso por causa de uma canção que exaltava as auto-estradas construídas por Adolf Hitler e que haviam acabado com o verde dentro da Alemanha: Autobahn.


Autobahn foi a primeira vez em que o Kraftwerk atingiu o grand público e não apenas na Alemanha. O disco marca uma total e radical mudança no som do Kraftwerk. Novamente um quarteto, com as aquisições do guitarrista Klaus Roeder e do percussionista Wolfgang Flür, o Kraftwerk percebeu que o som da banda estava nos sintetizadores que se popularizavam cada vez mais.
Mas o grande susto foi quando alguém - não se sabe ao certo o dono da idéia - pegou a longa faixa "Autobahn", de 22 minutos e resolveu editá-la em pouco mais de três minutos e distribuir às rádios. Foi um estouro mundial, que pegou a banda e gravadora desprevenidas.
"Autobahn" falava de algo que fazia sentido para os alemães - entrar em um carro popular e rasgar a Alemanha dentro das suas modernas, largas e seguras auto-pistas. Apesar disso, a canção bateu rapidamente entre as 30 mais nos Estados Unidos e ficou entre as 20 mais na Inglaterra.
Com o sucesso do disco, a banda saiu excursionando e imediatamente trocou o guitarrista Roeder por um segundo percussionista, Karl Bartos e tocou por Europa e Estados Unidos. Nessa época, a banda recebeu o rótulo de "space rock", designados aos grupos progressivos, e, em especial, o Pink Floyd. Apesar de não gostarem do rótulo, Ralf e Florian não o achavam tão ruim.
"Nós temos algumas referências ao espaço em nossas músicas, como em "Kometenmelodie", mas por outro lado, temos referencias bem terrestres como o corpo humano e o dia-a-dia", explicou em uma entrevista de 1975, Ralf.
"Nós crescemos impressionados com a tecnologia e o maquinário rítmico que usamos na nossa música, assim como nos aspectos mecânicos da vida moderna. A tecnologia não é uma inimiga para nós, nós a usamos de maneira adequada. Também gostamos de coisas naturais, mas é errado falar que isso é melhor ou pior do que a máquina. Você deve aceitar essas coisas", disse Florian.
Os dois explicavam porque o ritmo era tão importante para o Kraftwerk: "pode não parecer, mas nós alemães gostamos de ritmo e atualmente algumas companhias de danças da Alemanha usam nossas músicas para criar danças em cima delas. A coregrafia parece uma dança de robôs, com movimentos mecânicos. É esse tipo de dança que faremos no palco. Não é mexer todo seu corpo, mas você se sentirá dançando. Seu cérebro dançará", garantia Ralf.
Ralf explicava que o grupo era uma orquestra no palco: "nós criamos um único instrumento, uma espécie de alto-falante. Nós faremos mixagens, acionaremos tapes e tocaremos todo o aparato que forma o Kraftwerk, incluindo luzes e a atmosfera."
Florian explicava que eles gostavam de improvisar sob temas orientais, que não possuem uma estrutura tão delimitada quanto a ocidental ou até sobre temas clássicos.
"O que mais gostamos é tocarmos as notas essenciais. Uma das coisas mais tediosas nos anos de conservatórios era a obrigatoriedade de tocar várias notas em tantos segundos ou minutos. Nós tentamos soar da maneira mais simples e direta possível."

Em 1975, a banda daria outro susto lançando outro disco inovador, Radio-Activity (ou Radio-Aktivitat, em alemão).
O álbum marca uma importante mudança para o Kraftwerk, que havia deixado a gravadora Philips e assinado com a E.M.I. que havia dado um generoso adiantamento e uma parte dos futuros lucros para gravarem o novo disco, que o Kraftwerk prometia ser melhor do que Autobahn.
O disco abre com a faixa "Geiger Counter" (ou Geigerzahler) simulando uma batida de coração, depois um código morse e uma voz fria, glacial declamando a palavra-título. E, seguindo a mesma idéia do trabalho anterior, Radio-Activity teria um fio-condutor, como era corrente nos álbuns de rock progressivo. A diferença seria o tema e a simplicidade por detrás de tudo, ao invés dos exageros das bandas inglesas.
Esse trabalho pode ser considerado o primeiro totalmente eletrônico feito pelo grupo e o primeiro a conter letras em inglês e a partir de então os discos seriam lançados sempre em duas versões: em inglês e em alemão.
O primeiro single tirado do disco foi a faixa-título, que assim como "Autobahn" teve que ser editada. Mas, o single não fez sucesso, com exceção da França, onde teve uma boa vendagem. No mesmo ano é editado uma coletânea do grupo chamada Exceller 8.
Nos Estados Unidos, o grupo era considerado uma daquelas bandas de um único sucesso, apesar do crescente número de fãs. Mas foi na Inglaterra que o Kraftwerk experimentou uma grande popularidade, principalmente dos nascentes grupos punks, que viam no som do Kraftwerk uma rejeição aos valores tradicionais do rock and roll.

David Bowie
A fama da banda cresceu muito quando David Bowie confessou sua paixão pelo som do grupo. Afinal, crítica e fãs grudavam-se às palavras do cantor como uma tábua dos Dez Mandamentos.
Na turnê promocional de seu antológico disco Station to Station, de 1976, Bowie tocava uma fita com músicas do Kraftwerk e chegou a convidar o grupo a abrir seus shows, convite esse recusado. No ano seguinte, o cantor inglês iria morar em Berlim e estreitaria ainda mais os laços com o Kraftwerk.
Mas o Kraftwerk não parava de trabalhar. E, em 1977 lançam o que pode ser considerado sua grande obra-prima, o disco Trans-Europe Express.




Trans-Europe Express foi um sucesso monumental e um dos mais importantes lançamentos no ano marcado pela explosão do punk-rock. Mas o Kraftwerk não fazia referência ao novo estilo musical e sim a Bowie. Bowie havia gravado dois discos fortemente influenciados pelos alemães, o semi-instrumental Low e "Heroes", além de produzir o primeiro disco-solo de Iggy Pop, The Idiot.
No disco "Heroes", Bowie escreveu V-2 Schneider, em homenagem à Florian. E o Kraftwerk não deixou por menos, citando nominalmente Bowie e Pop na faixa-título. E se Bowie se esforçava para cantar em alemão, o Kraftwerk escrevia cada vez mais em inglês.


O Kraftwerk nessa época era visto por alguns críticos como um grupo por demais teutônico e suas idéias eram encaradas com desprezo. Havia quem os considerasse os "Beach Boys alemães" por cantar a alegria de guiar em uma auto-estrada. Sua música era considerada fria, distante e inócua. Em Trans-Europe Express, o grupo faz uma denúncia toda pessoal da condição humana. "Showroom Dummies", por exemplo conta a história de manequins de vitrine que ganham vida; "The Hall of Mirrors", fala da sensação que temos de olharmos para nós em um espelho e não nos reconhecermos.
Mas o disco acabou não tendo sucesso comercial, alcançado resultados modestos nas paradas de sucesso. O Kraftwerk começava a enfrentar um sério problema com a gravadora, que aplicava muito dinheiro no grupo e via um retorno apenas modesto. Mas essa dúvida seria quebrada com o novo disco, The Man-Machine.


A idéia central do novo disco vinha de tempos, desde a excursão americana de 1975. Ralf e Florian sonhavam em serem substituídos por robôs parecidos com eles. No imaginário dos dois, os robôs poderia fazer de tudos - desde se apresentarem ao vivo até em conferências com os jornalistas. Era um conceito irônico, mostrando que as pessoas haviam sido automatizadas pela vida. E dessa vida, os próprios integrantes poderiam cuidar mais da parte musical.



Na época, o máximo que podiam fazer era adaptar manequins com os integrantes fazendo as vozes por trás. Com esse conceito nasce o disco The Man-Machine, de 1978, que reservaria várias surpresas. A maior delas foi dar ao grupo, um primeiro lugar nas paradas, com "The Model", mas em 1982, quatro anos depois! A primeira polêmica sobre o disco veio pelo uso das cores vermelho e preto, utilizadas pelos nazistas. O grupo respondia, de forma irônica, que o vermelho simbolizava os países comunistas. O que o grupo pregava era a total falta de individualidade das pessoas e a total uniformidade das sociedades modernas.
O disco consistia em seis faixas: "The Robots", "Spacelab", Metropolis (lado A); "The Model", "Neon Lights" e "The Man Machine" (sem hífen, no lado B). As canções falavam de amor, vida nas grandes cidades, nostalgia, tecnologia, comportamento humano e socidade.


Até então, o grupo experimentava um desempenho pífio nas paradas de sucessos e isso inquietava a banda. Apesar das vendagens de LPs serem boas e os fãs aumentarem sempre, o grupo não conseguia sucesso nas rádios. Tudo isso mudaria com o próximo disco, Computer World, lançado em 1981.
Computer World falava da importância que os computadores ocupavam na vida. Desde uma simples calculadora - "Pocket Calculator" - até o amor pelo computador - "Computer Love" e os primeiros passos no uso doméstico - "Home Computer". Algumas críticas disseram que o Kraftwerk havia perdido o ato de prever o futuro e que eles estavam abordando assuntos banais. Mas o fato é que o grupo sempre se cercou e falou dos temas cotidianos da vida. Outra crítica era de caminharem na contramão dos acontecimentos dentro da Alemanha, já que o Kraftwerk celebrava a chegada da tecnologia, enquanto o computador central da polícia alemã causava uma paranóia em seus cidadãos.
O grupo lançou um compacto com as canções "Computer Love", tendo no lado B "The Model". O disco alcançou a 36ª posição nas paradas. Ainda assim, ele continou sendo executado na Inglaterra e na Alemanha até que a E.M.I. resolveu relançar "The Model" como um compacto. Em janeiro de 1982 o disco entrou em 21º na parada inglesa e no dia 6 de fevereiro alcançou o primeiro posto das paradas.


Enquanto o disco fazia sua escalada, o grupo estava promovendo seu novo trabalho com a última turnê que fariam até a década de 90.
O grupo colecionou alguns problemas na França, quando o single "The Model" foi relançado com um selo contendo "Number One in England". Irritados, os franceses vetaram o single em seu país.
Um dos grandes motivos para o sucesso do Kraftwerk era a explosão de bandas que faziam do sintetizador seu instrumento favorito, como era o caso do Human League, Soft Cell, Depeche Mode, entre outros.
Os shows eram uma grande celebração com o público. Durante "Pocket Calculator", os integrantes convidavam pessoas da platéia a tocar algumas notas em uma calculadora. Havia ainda uma grande exibição de robôs e muitos desses shows foram pirateados em discos até hoje consumidos. O sucesso também permitiu ao Kraftwerk equipar e modernizar seu estúdio Kling Klang, que agora era portátil e levado para o palco.


Em 1982 o mundo foi surpreendido quando um compacto chamado Planet Rock, de Afrika Bambaataa atingiu as paradas do planeta inteiro. Bambaataa havia feito uma canção em cima de "Trans-Europe Express" e "Numbers", provando a penetração da música do Kraftwerk.
Afrika se recorda da primeira vez que ouviu o grupo alemão: "quando me mostraram Kraftwerk, levei um susto e achei aquilo uma bosta esquisita." A bosta esquisita, no entanto, encheu os bolsos do músico norte-americano e ele acabou sendo obrigado a relançar o compacto com o nome Planet Rock/Trans-Europe Express, após uma ameaça de processo legal e colocar nos créditos os nomes de Ralf e Florian.



Em 1983, o grupo faria, de certa forma, as pazes com os franceses ao lançar o seu mais famoso compacto: Tour de France. Inspirada na famosa corrida ciclística mais tradicional do planeta e esporte que fascina Ralf e Florian, o Kraftwerk compôs a trilha sonora perfeita para a prova. A idéia era fazer um disco inteiro sobre o tema, idéia descartada. A canção acabou tendo vários remixes, mas um grave problema fez com o que a divulgação do mesmo fosse prejudicada. Tudo porque Ralf Hutter sofreu um grave acidente de bicicleta e passou dias internados.
Quando o compacto foi finalmente lançado, a prova já havia terminado e o disco acabou vendo modestas 7.500 cópias na França. A canção chegou a ficar entre as 30 mais na Inglaterra, mas só voltaria com mais força, anos depois.
O grupo anunciou que estava então trabalhando em um novo disco cujo nome seria Technopop e que seria lançado ainda em 1983. Mas vários outros problemas foram adiando o novo trabalho. Pela primeira vez, o Kraftwerk mostrava falta de confiança em suas composições e em seu conceito e os músicos estavam mais ocupados tentando aprender as modernas técnicas de gravação e equipar melhor o Kling Klang.

Dessa maneira, a banda entrou em um estado de hibernação até 1986, quando voltaram com um novo disco, Eletric Café. E o disco foi duramente criticado por sua falta de criatividade, por utilizar idéias forçadas e por terem abandonado a simplicidade.
E as críticas não foram os únicos problemas. As vendagens ficaram aquém do esperado e Ralf teve um novo problema de saúde, sendo internado com uma suspeita de ataque cardíaco. Dessa maneira, o Kraftwerk voltou ao isolamento e só iriam dar as caras na década de 90.




por Rubens Leme da Costa

http://www.beatrix.pro.br/musica/kraftwerk.htm

Kraftwerk: os pais da eletrônica parte II

E o Kraftwerk deu as caras em 1991 após um longo exílio com o disco The Mix. The Mix surpreendeu por ser um disco de remixes. Estaria o Kraftwerk dando um passo para trás em uma carreira pontuada pela ousadia e pelo olhar no futuro? Não para Ralf Hütter.
"Estávamos trabalhando nas faixas para a execução ao vivo, gerando sons digitais e sampleando nossas velhas fitas. Por isso, não são remixes, mas regravações completamente novas." Ralf explicou também que deixaram alguns clássicos de fora para usarem apenas faixas que combinavam. "Tivemos que sacrificar algumas faixas em nome de uma unidade."
Ele alegou que não colocaram nenhuma faixa dos três primeiros discos porque não tocavam mais esse material desde os anos de Autobahn.
Uma das primeiras diferenças presentes no novo trabalho era a ausência dos percussionistas Karl Bartos e Wolfgang Flür. Bartos havia deixado o Kraftwerk em 1987 criticando os métodos de Ralf e Florian, o que aumentava os boatos de que os dois exerciam uma tirania interna. Flür acabou saindo do Kraftwerk em 1990, antes de cinco concertos programados para a Itália. Nesses concertos, Wolfgang acabou sendo substituído por Fritz Hilpert. Sobre a mudança, Ralf explicou: "agora temos um engenheiro eletrônico ao invés dos dois antigos percussionistas e temos mais eletrônica, mais programação e mais engenharia de som."
Flur
Flür deu sua própria versão sobre sua saída da banda: "o Kraftwerk era um grupo que se concentrava apenas em si mesmo. No início dos anos 80, quase ninguém podia avançar neste universo. Existia uma lei interna que pregava a imobilidade e isso matou nossa inspiração. Karl e eu queríamos participar mais da criação musical. Deveríamos ter efetuado mais intercâmbios com outros músicos. Além disso, Ralf e Florian passam mais tempo preocupados com ciclismo do que com a música.
Wolfgang explica que o desgaste já vinha há vários anos: "o auge de toda a tensão foi durante a excursão de Computer World. Naquela viagem pudemos notar nossos limites pela primeira vez. Após a partida de Emil Schult, que era uma espécie de pai para o grupo (acompanhava Kraftwerk nas viagens desde 1975), um elemento chave ficou faltando. E com o controle cada vez mais autoritário de Ralf e Florian eu não vi outra alternativa, a não ser deixar o Kraftwerk."

Henning Schmitz
Na excursão de The Mix, o Kraftwerk excursionou e tocou com Hilpert e com o português Fernando Abrantes, que depois foi trocado por Henning Schmitz, embora o robô de Abrantes continuasse aparecendo nas turnês. Sobre isso, Ralf disse: "é muito mais fácil trocar um membro do que um robô!"
Hütter, aliás, explicou que ele nunca se viu como um ser humano e sim como um autômato: "em alemãp, os sobrenomes são frequentemente de profissões, como Müller (mecânico) e Bauer (fazendeiro). Eu não me sinto como Sr. Hütter, ou mais precisamente como Sr. Kraftwerk. Eu me sinto como um robô."
Kraftwerk em 1991
Hütter afirmou que nunca ligou muito para o aspecto humano dentro do grupo, apenas para o aspecto profissional: "alguns dizem que produzimos pouco, mas a verdade é que trabalhamos duro todos os dias. Nós digitalizamos completamente nossas músicas antigas, elas estão todas salvas em disco rígido. É o nosso arquivo sonoro. Ele nos fará permanecer. Além dos mais, acho bela a solidão. O silêncio é importante para o ser humano, porque somos constantemente incomodados pelo ruído da música. É por isso que exijo dias de silêncio total."
Esse tipo de pensamento fez com que alguns rotulassem o grupo de fascistas e de estabelecerem uma verdade extremamente cruel com o mundo: "é bobagem essa coisa de nos chamarem de fascistas. Apenas temos uma maneira de trabalhar, que pode ser dura para outras pessoas. Mas o nosso tipo de som exige uma postura totalmente diferente. E o fato de nos confraternizarmos pouco com nossos fãs é mentira. Gostamos de conversar com as pessoas", afirmou Ralf.
Mas Ralf disse que apesar de todas as críticas, o grupo sempre esteve interessado pelos problemas cotidianos: "a tecnologia hoje está mais próxima do que sempre sonhamos. As limitações estão diminuindo e nossa música é cada vez mais espalhada pelo planeta. Eu adoro sair para dançar e ouvir essas novas bandas usando idéias que tivemos. Ao mesmo tempo, tento reduzir os estímulos externos. Não ouço música, faço música no estúdio e quando saio de casa gosto de ouvir os sons que o ambiente oferece."
Classico: som e robôs sao a mesma coisa
A excursão de The Mix coincidiu com o começo da reunificação alemã após o final da União Soviética e Ralf disse que ficou frustrado com a falta de estímulo das pessoas após o ocorrido: "eu não sei porque está tudo tão modorrento, já que era para estar acontecendo uma avalanche de idéias, seja na música, na literatura ou no cinema. Mas nada aconteceu."
Uma das coisas que mais preocupavam o líder do Kraftwerk era a massificação humana: "não há muita personalidade hoje e não acho que o mundo seguirá um grande líder como aconteceu antes. Agora o movimento se dá através de uma ditadura de massas, do controle remoto. Não vejo sentido em eleições porque votar não significa estar escolhendo algo de qualidade."
A excursão promocional de The Mix levou anos para terminar e algumas apresentações ficaram na história, como a de junho de 1992, em Manchester, em um concerto contra as armas nucleares. Após o sucesso retumbante e a aclamação geral, o grupo voltou a hibernar longamente.

Em 1994, duas coletâneas foram lançadas: The Capitol Years, uma caixa pelo selo californiano Cleopatra, reunindo The Man-Machine, Radio-Activity e Trans-Europe Express, trazendo um libreto, um adesivo e um pôster e The Model: Best Of Kraftwerk.
A banda ainda realizou alguns shows nos anos de 1997 e 1998, sendo três no primeiro no ano e 14 no segundo, incluindo as duas primeiras apresentações em solo brasileiro, nos dias 16 de outubro de 1998, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, e no 17 de outubro, no Jockey Club de São Paulo.
Kraftwerk em 1998
Visualmente, a banda soava mais espetacular do que nunca, utlizando cada vez mais recursos visuais e tornando seu espetáculo único.
Mas o grupo só voltaria a dar as caras com um novo projeto em dezembro de 1999 e ainda assim feito por encomenda: o EP Expo 2000. Seria o primeiro disco de música inédita em 14 anos.
Expo 2000 era o nome de uma feira mundial que aconteceu em Hannover, na Alemanha. Por um EP com quatro músicas, o grupo recebeu um polpudo cheque de 400 mil marcos dos organizadores, o que causou uma grande reclamação no país. As primeiras 5 mil cópias traziam uma capa holográfica.
Além da questão financeira, alguns criticaram o fato do Kraftwerk estar soando exatamente o mesmo há 20 anos. Sobre isso, Ralf comentou: "Nós criamos novos trabalhos, eles são como modelos mentais."
Florian
Expo 2000 não teve nenhum show para a divulgação, mas apesar disso a banda realizou sete apresentações no ano de 2002, entre os meses de setembro e dezembro pela Europa - Bélgica, França, Luxemburgo e dois no Japão. A curiosidade é que em um único dia - 26 de setembro - a banda deu três shows - dois em Paris e um em Luxemburgo.
Durante essas apresentações, especulava-se que o grupo iria lançar em breve um novo disco. Ralf confirmou que existia, de fato, um projeto, mas se recusava a dizer qual: "nós trabalhamos todos os dias e algo sairá brevemente, mas ainda não posso dizer sobre o que será."
O ano de 2003 começou com uma série de oito shows entre os dias 17 de janeiro e 2 de fevereiro, na Nova Zelândia e na Austrália. E no mesmo ano, o grupo surpreende lançando Tour de France Soundtracks. Mais do que regravar o antigo e clássico EP sobre a Volta da França, o grupo fez novos temas. O disco faria parte das comemorações do 100 anos da prova. Porém, o grupo acabou atrasando o organograma e disponibilizaram apenas a última faixa do trabalho para a prova.
Ralf relata mais uma vez que era grande amante da prova e que todos os anos participa, ao menos, das etapas montanhosas. Segundo ele, "se correr sem pressa, não exige um grande esforço. Para o nosso álbum nós gravamos o ruído de bicicletas e da respiração humana. Esta sensação de "flutuação" é conhecida como "estar correndo na bicicleta sem a corrente", assim como um concerto com música tocando de forma automática."
Kraftwerk em 2004
O líder do Kraftwerk conta que o projeto foi adiado por décadas: "em 1983 nós já tínhamos o conceito para o álbum Tour de France. Ele só acabou se tornando um single porque nós começamos a trabalhar no álbum Technopop, que acabou se tornando o Electric Café. Depois disso nós digitalizamos todas as nossas gravações. No último outono nós nos apresentamos no Cité de la Musique em Paris com laptops pela primeira vez. Agora nós temos mais mobilidade com nosso estúdio."
Ralf também explica que uma das grandes diferenças foi o "emagrecimento" do estúdio da banda, Kling Klang: "o Kling Klang costumava pesar várias toneladas. Em 1998 nós viajamos com ele através do mundo. Agora nós o reduzimos a uma plataforma digital. Praticamente podemos carregar nosso estúdio como uma bagagem de mão. E funciona muito bem em diferentes climas. Nós nos apresentamos no Japão a baixas temperaturas e também no calor da Austrália. Foi fantástico."
Kraftwerk em 2004
Sobre o ritmo lento de produção do grupo, mais uma vez ressaltou que trabalham totalmente sozinhos e criticou novamente Wolfgang Flür, que acusou a banda de estar mais preocupado com o ciclismo do que com a música: "ele era apenas um dos percussionistas que nós empregamos para concertos e gravações. Sua afirmação está errada. Ele não pode julgar o ciclismo porque ele nunca o praticou."
Após um ano do lançamento do disco, a banda saiu novamente em excursão pelo mundo, fazendo 69 apresentações no ano de 2004, onde passaram, mais uma vez pelo Brasil, em três shows no mês de novembro: nos dias 5 e 6 tocaram no TIM Festival, em São Paulo e no Rio de Janeiro e no dia 8, em Brasília.

Esses concertos acabaram rendendo o novo disco do grupo, gravado ao vivo: Minimum-Maximum. Um álbum duplo que mostra, pela primeira vez, seus clássicos, ao vivo, músicas que eram consumidas avidamente em centenas de discos piratas.
Discografia
Kraftwerk (1971)
Kraftwerk 2 (1972)
Ralf and Florian (1973)
Autobahn (1974)
Radio-Activity (1975)
Exceller 8 (1975)
Trans-Europe Express (1977)
The Man-Machine (1978)
Computer World (1981)
Tour de France (1983)
Electric Café (1986)
The Mix (1991)
The Capitol Years (1994)
The Model: Best Of Kraftwerk (1994)
Expo 2000 (1999)
Tour de France Soundtracks (2003)
Minimum-Maximum (2005)



por Rubens Leme da Costa